As pessoas que queremos viram entidades e pairam no ar…
E se desvazem no primeiro vento…
Onde guardarei minhas poesias, reflexões, devaneios…
As pessoas que queremos viram entidades e pairam no ar…
E se desvazem no primeiro vento…
Você tão cheia da própria vida não aprendeu a me amar.
Será que algum dia você soube amar alguém?
Você foge, conheço suas rotas de fuga e você também …
Saída de incêndio… Aqui está prestes a explodir.
Eu poderia passar a vida toda aqui… No seu calor. Mas e você?
Você sobreviveria a você mesma?
Ou a sua coragem é só a correr de tudo?
O amor que virou sexo
que virou consumo
que nunca foi nada
Nem amor, nem sexo, nem compra.
Eu vivo outra vida que você não conhece…
Eu vivo nos caminhos do mundo a me procurar,
Mas existem lugares secretos que eu habito
E por incrível que pareça, não são teus lábios.
O teu corpo é a materialização do meu desejo.
Mas além de ti, eu vivo.
Vivo tantas vidas que não cabe dizer.
Vivo aqui e ali.
Vivo você e tudo longe e oposto a isso.
Vivo o que ninguém vê,
O secreto é a minha matéria
E nela trabalho
Moldo o tempo
O barro do vaso onde faço crescer flores sem raízes
Uma vida emaranhada feito raízes, é uma vida.
E mais uma vez eu entro nessa…
Mas agora é diferente…
Parece que eu não consigo sair.
Agora o destino brincou comigo
E não há mais eu e você
A vida se quebrou como uma taça tão delicada
Um sopro que respira longe de mim
Me curvei às minhas próprias sombras e ninguém pode ver
Quem entenderia?
Mas eu sempre faço o impossível
E agora não vai ser diferente
Só mais difícil
Uma barrareira intransponível,
Vidas em fronteira
É como um rio que corta a vida
Sangra
É só silêncio
E um monte de vazio
Nem o brilho do sol aquece
Talvez…
Talvez um dia…
As coisas se encaixem
E eu possa sorrir de novo
E meus pés possam caminhar
Talvez a natureza me ajude
E o vento me beije
Borrando as tatuagens que sangram no meu peito
A morte é a vida invertida
É um outro lado do não ser
Onde há ausência
Vazio
Frio
Solidão
Dor
E, depois, o infinito
É sempre uma distância
É sempre algum sentimento longe que paira na atmosfera da vida cotidiana dos mortais
Um silêncio imenso em bocas secas
E sedentas de amor
Uma imensidão de memórias
Luz e sombra
A vida não é mesmo para principiantes
A vida de todos a nossa volta é uma extensão de nós
Somos todos e todos são em nós
Já dizia a sabedoria Umbutu.
Eu sou todas as pessoas pretas…
As crianças no semáforo, sou eu.
As mães que não podem cuidar dos seus próprios filhos
Os filhos perdidos pro tráfico
As negras escravizadas estupradas no balanço da rede, nas esteiras, no mato…
Eu sou as costas no tronco sangrando
O meu sangue corre nesse chão chamado Brasil
Eu sou o mengido preto no chão
O homem preto pisado, esmagado
Eu sou todas das mães negras que choram seus filhos
Eu sou todos os filhos e filhas sem mãe
Pai nem se fala…
Eu sou toda criança preta que morre
É meu sangue que jorra ali
Sou assassinada também
A bala, o estrangulamento, o chicote tem alvo, sou eu.
Kelane Oliveira
Donas da vida e da morte
Bruxas em belas faces escondidas
Sórdidas, enganam, dissimulam
O bem e o mal se curvam
Instinto e selvageria
A mulher que brota onde ninguém viu e vai aonde ninguém pode alcançar
Muito mais que sobreviventes das guerras seculares
Sendo a própria vida e a própria morte
Um novo mundo se faz quando uma mulher se descobre mulher
O olhar que atravessa
Sempre encontra
Um lugar impossível de ser tocado pelos meros mortais
Sempre distante mesmo aparentemente ali…
Tão incompreensível e imensurável são seus olhos de cigana oblíqua e dissimulada
O olhar de penumbra que se movimenta e mata.
E a gente percebe que perdeu tempo
Que deixou o tempo passar
Que ali eu e você queríamos ser e não fomos
Que qualquer coisa sempre será menor do que nós
E demoramos pra entender isso
Quase não entendemos isso
Quase não entendemos nada
Quase nada
Até olhar
Lembrar
Aprendemos a ganhar e perder a qualquer tempo